Seca afeta pesca e comércio ns rios do interior de SP – Portal Pesca Amadora Esportiva Seca afeta pesca e comércio ns rios do interior de SP | Seca afeta pesca e comércio ns rios do interior de SP – Portal Pesca Amadora Esportiva

Seca afeta pesca e comércio ns rios do interior de SP

Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo“Não é preciso ser especialista para ver que a situação é desesperadora. A água ficava acima dos pilares da ponte, agora dá para ver toda a base. Está cerca de 10 metros mais baixo, por isso a preocupação é grande. Onde vamos parar? Parece campo de guerra abandonado.” A frase dita pelo auxiliar Marcelo Barbosa, 33 anos, funcionário de uma empresa que retira areia do rio Grande, descreve com precisão a situação de seca nos rios da região. Cenário que quase nada mudou com as chuvas dos últimos dias.

A fraca chuva até deixou a vegetação esverdeada e melhorou a qualidade do ar, mas nem de perto foi suficiente amenizar os efeitos da seca na região Noroeste, que enfrenta um dos piores e mais longos períodos de estiagem da história. A região ficou sem chuva quase quatro meses. Em Rio Preto, por exemplo, a última havia sido março, quando o Posto de Sementes marcou 36,2 milímetros.

Aliás foram só duas chuvas forte esse ano na cidade. A outra em janeiro, registrou 37,8 milímetros. Na semana passada choveu apenas 7,2 milímetros na cidade. Na região, o tempo foi mais generoso. Em Ouroeste, 30 milímetros, de acordo com a Casa da Agricultura da cidade. Mesmo assim, o nível dos rios continua baixo. O Grande, que abastece as usinas de Água Vermelha e Marimbondo, é o mais afetado. Nas proximidades da usina de Água Vermelha, abaixo da ponte da rodovia Percy Waldir Semeghini – que liga Ouroeste a Iturama (MG), é possível andar no meio do rio.

Toda a base da ponte está à mostra, inclusive as pedras próximas aos pilares. O rio recuou pelo menos 10 metros segundo pescadores e trabalhadores das proximidades. Em outro trecho, em Mira Estrela, um dos braços do rio Grande está praticamente sem água. Até uma antiga estrada de terra que era submersa voltou a apareceu depois de 30 anos. Logo abaixo da barragem da usina de Marimbondo, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, a navegação precisa ser feita com cautela porque as pedras do fundo do leito também estão fora d’água. Quem olha o rio de cima da ponte da rodovia da BR-153 consegue ver o fundo em alguns trechos.

Cachoeira sem água
Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo 2Não é só no rio Grande que os efeitos da seca são perceptíveis. No rio Preto, em Pontes Gestal, a cachoeira de São Roberto está com metade do seu volume comum. O local, muito frequentado por pescadores, está vazio.
“A água está 1,5 metro mais baixa.

Está ruim para quem pesca de barranco, por isso tem vindo pouca gente”, explica Arnaldo Machado de Oliveira, 62 anos, administrador dos quiosques do lugar. No Tietê, em Pereira Barreto, o braço que passa por baixo da rodovia Euclides Figueiredo está praticamente seco e nem de perto lembra a mesma época do ano passado, quando as águas invadiam a vegetação das margens.

Pousadas e quiosques estão vazios
Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo 3Com o seu principal atrativo seco, com quedas d’água menores e ruim para pesca, pousadas e quiosques do rio Grande, em Icém, e do rio Preto, em Pontes Gestal, tem ficado vazias durante a semana e pouco movimentadas aos sábados e domingos. Na cachoeira de São Roberto, em Pontes Gestal, são 30 quiosque à disposição da população. Em épocas comuns, são disputados pelos pescadores, que precisam chegar cedo para garantir um espaço. Nos últimos dois meses, essa disputa não ocorre.

Segundo Arnaldo Machado de Oliveira, 62, que cuida da área, a média de ocupação atual é de 10 quiosques, mesmo nos fins de semana. “Aqui não alugamos, o pessoal chega e usa. Mas com essa seca, o pescador não vem porque não pega nada e os banhistas porque não terão uma cachoeira legal para tomar banho. Estamos rezando para chover bastante e logo”, afirmou. Outro local prejudicado pela estiagem é a Praia da Maria, em Icém. Na última quinta-feira, o bar de Luiz Fernando Neves estava fechado porque não havia clientes.

Parte dos barcos e batelões também estavam sem uso. O empresário possui 20 barcos e 15 batelões e apenas um terço tem sido locado. “Antes alugávamos todos barcos e batelões. O pessoal tinha de ligar bem antes para reservar. Atualmente tem saído de seis a sete barcos por dia e cinco batelões. O movimento no bar também diminuiu porque recebo muitos clientes vindos os ranchos da redondeza de barco. Como o rio está baixo, a maioria prefere não vir”, disse.

Comércio fecha e porto de areia enfrenta dificuldades
Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo 4Quem depende do rio diretamente para ganhar o sustento, está com dificuldades financeiras. Estabelecimentos estão fechando e restaurantes e pousadas ficando vazios. Em Ouroeste, próximo de Água Vermelha, a dona de uma casa de iscas vivas chegou a fechar as portas por causa da falta de clientes. O estabelecimento recebia em média 20 clientes por dia.

Ele compravam lambaris, espadinhas, entre outras iscas vivas para pesca no rio Grande. Mas, nos últimos três meses eles desapareceram. “Não chegava a atender cinco por dia. A manutenção desse tipo de comércio é difícil porque se não vende, as iscas morrem. Estava mais perdendo do que ganhando, então tive de fechar até que o período da seca termine”, disse Beatriz Helena, 55 anos.

Enquanto a casa de iscas não reabre, Helena está ajudando o marido em outro estabelecimento da família que também está tendo prejuízos, o restaurante Sucão, localizado ao lado rio Grande. De acordo com os proprietários, o movimento caiu 80%. Antes, a média era de 120 clientes por dia e agora não chega a 30. “Muitos pescadores vinham almoçar aqui. Agora está vazio porque não tem ninguém no rio. Estou aqui desde 1976 e nunca a água ficou tão baixa”, afirmou José Maria Vidal Sobrinho, 54, um dos donos.

Porto de areia
Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo 5No Porto de Areia de Água Vermelha, a seca obrigou os funcionários a duplicar o alcance da captação para conseguirem ligar a balsa, posicionada no leito do rio, até o local de depósito da areia. Foram necessários 10 metros a mais de tubo de ferro e 10 metros de mangueiras para abastecimento das máquinas.

“Apenas o canal tem água. A sorte é que trabalhamos na margem próxima ao leito. A tubulação não estava mais alcançando a balsa. Nunca vi o rio assim. Metade dos pilares da ponte ficava submerso. Hoje dá para ver até a base. Por causa disso, não estamos navegando durante a noite. É muita pedra e pouca água”, diz o auxiliar Marcelo Barbosa, 33.

Seca prejudica a pesca profissional
Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo 6Se para o pescador esportivo a diversão está prejudica pela pouca água dos rios, imagina para pescador profissional, que tira o sustento do rio. São 2 mil na região do rio Grande, entre Icém e Ouroeste, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura. Juvenil Machado de Oliveira, 62 anos, é um deles. Há 24 anos vive do que capta em sua redes, e diz nunca ter vivido tempos tão difíceis.

“Antes pegava 30 quilos por dia. Hoje não chega a 10. É a primeira vez que vejo o rio tão vazio. O jeito é economizar em casa e rezar para chover”, disse. Segundo o pescador, com o rio baixo, a água fica mais limpa, por isso mais difícil de pegar peixes. “Acho que os peixes enxergam a rede e fogem”, disse. Outra dificuldade enfrentada pelos pescadores é a diminuição no campo de pesca.

O espaço para navegação está menor e os locais para posicionar as redes também. “O profissional que pesca com rede tem menos ambiente. Então realmente fica mais difícil”, explica o capitão Alessandro Daleck, da Polícia Ambiental de Rio Preto. Mas, se por um lado a seca dificulta para quem segue as leis ambientais, acaba facilitando a pesca predatória, segundo Daleck. “A seca forma bolsões e os peixes ficam presos, por isso fica mais fácil para quem pratica ilegalmente a pesca de arrastão”.

Chuva não vai resolver
Seca afeta pesca e comercio no interior de Sao Paulo 7Os dias difíceis do pescador Juvenil Machado vão acabar somente em setembro, quando deve começar a temporada de chuvas. O Centro de Previsão do Tempo (Cptec), registra previ˜soa chuva para região até a próxima terça-feira, porém são fracas, isoladas e insuficiente para colocar um fim na seca. A previsão é de 5% de probabilidade de chuva amanhã e na terça-feira em Rio Preto. Na região deve chover mais.

Em Ouroeste, área da barragem de Água Vermelha (rio Grande) existe 80% de possibilidade de chuva amanhã e 5% na terça. A mesma previsão vale para Icém, cidade ao lado da usina de Marimbondo, e Pontes Gestal, cidade por onde passa o rio Preto. O meteorologista Pedro Costa, do Cptec, afirma que o inverno é um período conhecido por ter baixo índice pluviométrico, por isso não deve chover o suficiente para encher os rios. “A seca deve permanecer até a mudança de estação”, disse.

O especialista afirma ainda que esse ano está sendo atípico, porque não choveu no início do ano devido a um fenômenos chamado “sistema de bloqueio”, que desviou a chuva da região sudeste. “Esse fenômeno funciona como um jato de vento e não deixa a chuva chegar. Agora, com a chamada onda frontal, formada na Patagônia, deve chover um pouco e fazer frio”, explica.

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