Pirarucu, espécie nativa da Amazônia, invade rios no sudeste e centro oeste do Brasil
O pirarucu, gigante da Amazônia, e considerado o maior peixe de escamas do mundo, já pode ser capturado em rios de cinco Estados fora de seu bioma natural. A espéciae já foi identificada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e até no estado da Bahia.
Os registros mostram que o peixe amazônico está se espalhando pelo País. Fora de seu habitat, a espécie, que atrai pescadores e turistas, é considerada exótica e coloca em risco a fauna nativa.

No Pantanal, o peixe amazônico invadiu a Bacia do Prata, tendo sido encontrados exemplares nos rios Cuiabá e Paraguai. Há criações do peixe em cativeiro nessas regiões, o que poderia justificar o aparecimento repentino da espécie. O Paraguai é o principal rio pantaneiro.
No Mato Grosso, o peixe foi capturado em rios que não compõem seu bioma natural, como o Teles Pires e o Juruena. Em 2024, a Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) deu aval à pesca e abate do pirarucu nesses rios, onde este peixe é considerado exótico.

Na Bahia, o pirarucu foi capturado no município de Dom Basílio e no povoado de Pau dArco, em Malhada no Rio São Francisco. Embora situadas na mesma região, no sudoeste baiano, as duas cidades ficam distantes 260 quilômetros, o que indica que o peixe pode ter se espalhado por rios da bacia do São Francisco. O espécime maior pesou 87 quilos.
No estado de São Paulo, a espécie já é recorrente desde 2009. Em Cardoso e Mira Estrela, cidades paulistas banhadas pelo Rio Grande e seus afluentes, a pesca do pirarucu atrai turistas e há relatos quase diários da captura de grandes peixes. O aparecimento da espécie se concentra principalmente no Rio Grande e seus afluentes, rio que divide os estados de São Paulo e Minas Gerais.

A Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística), através da Diretoria de Biodiversidade e Biotecnologia, diz que a espécie é considerada exótica no Estado de São Paulo, o que caracteriza um risco para as espécies nativas. “Uma vez capturados, os peixes não devem ser devolvidos ao ambiente natural”, alerta. A pasta recomenda o envio do pescado para cativeiros autorizados e instituições de pesquisa.
Em Minas Gerais, além do aparecimento da espécie no Rio Grande, há registros de captura do peixe na represa do Lago de Furnas, acima da barragem no centro-oeste mineiro. O lago é considerado o maior lago em extensão no estado e banha 34 cidades. Recentemente, o pirarucu foi visto no municipios de Guapé, cidade vizinha a famosa Capitólio que abriga a maior marina de água doce do País Escarpas do Lago e Carmo do Rio Claro.

A introdução de uma espécie não nativa, que se alimenta de outros peixes e de animais aquáticos, desperta a preocupação de pesquisadores. O risco é de impacto na população local de peixes e no ecossistema aquático, já que, nesses rios, não há predadores naturais do pirarucu, como alerta a pesquisadora Lidiane Franceschini, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), câmpus de Ilha Solteira.
Ela pesquisa a espécie e seu avanço em rios não amazônicos desde 2022, quando o peixão passou a ser pescado com mais frequência no Rio Grande. “Na ausência de predadores naturais ou espécies concorrentes, o pirarucu pode causar a extinção local de espécies de peixes invertebrados e competir por recursos ambientais com outras espécies. A presença dele pode causar a diminuição de espécies importantes para a pesca regional”, diz.

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do planeta, podendo ultrapassar três metros de comprimento e pesar até 200 quilos. Com a coordenação da professora Lilian Casatti, Lidiane desenvolve um projeto de pesquisa para investigar as consequências da presença desse predador amazônico nas águas da região Sudeste. Até agora, o pirarucu tem sido encontrado principalmente entre as barragens da usina hidrelétrica de Marimbondo e da hidrelétrica de Água Vermelha, em um trecho de 120 quilômetros do rio Grande.
Ela aponta que o pirarucu é uma espécie de perfil carnívoro generalista ou onívoro (come de tudo), que costuma ocupar o topo da cadeia alimentar.
Uma vez introduzido no ambiente aquático, reverter essa situação é quase impossível, segundo a pesquisadora. “Atualmente, a principal medida de contenção dessas espécies é a liberação da pesca esportiva e artesanal profissional durante todo o ano, mas é medida insuficiente para conter essas invasões biológicas.”